27.12.05

helena

Passaram tantos por mim. Porque não ficou nenhum? Para que houvesse um teria que haver todos os outros? Para que esse passasse teriam que passar todos? Teve mesmo que ser assim?

Saio sozinha, encontro alguns amigos nos locais do costume, e volto sozinha. Dói-me muito ver a cama vazia. Parece-me injusto. Cada vez é mais difícil. Vejo as coisas do quarto: a cama branca, as duas cadeiras, as cortinas caídas. Fazem-me sentir como se eu estivesse ali a mais, como se fosse uma intrusa.

Às vezes dormem comigo. Mas é só uma infidelidade que cometem para provarem a si próprios que ainda estão muito agarrados às namoradas. Quando pedem desculpa ainda são mais miseráveis. Fico com os nomes de todas na memória.

Rogo por amor e ninguém me ouve. Mais valia não haver palavras, só suspiros e risos e choros. Talvez alguém ouvisse. Talvez alguém entendesse.

Dou comigo a rezar diante de uma parede de pedra e tenho por única resposta o eco da minha voz. Estou cada vez mais sozinha.

Ninguém me agarra e diz: “Quero-te como não é possível querer mais alguém. Leva-me contigo. Ou então eu levo-te comigo.” Não. Tocam-me mas ninguém me agarra. Querem só tocar. Batem nos vidros, riem-se e eu rio-me. E depois partem.

Estou muito cansada. O meu coração está muito pesado.

Passaram tantos por mim. Porque não ficou nenhum? Teria que ser assim, mesmo assim?



Pedro Paixão
1989