26.5.13

Londres

eu e a helena
dentro de um táxi à procura um do outro
tendo dito ao chauffeur que nos levasse a piccadilly
para ver a figura alada que dir-se-ia querer voar
mas que não estava, retirada para reparação.
e toda a praça em obras, do avesso
como nós próprios dentro do táxi
ansiosamente à procura do resto de nós dois
(lembras-te quando dançavas e cantavas para mim
junto ao lugar da praia onde dormimos pela segunda vez,
eu com uma mala encarnada e tão grande que temeste
que me servisse dela para esconder os bocados de ti?)
eu e a helena
junto ao grande mito
maior que tudo
donde saímos sem saber quando nem como nem porquê
e que não continua senão na imaginação dos homens que persistem
em estar alheios a si próprios
tomados pelo poder estranho que põe fora de si
o poder das coisas alheias, estranhas,
que nos faz humanos
participando tanto quanto podemos da parte divina:
eu à espera da helena
que entrou mais uma vez numa daquelas lojas de que há centenas
que vende bugigangas de toda a espécie para os turistas
que querem levar alguma coisa com o nome mágico,
como um tótem, ou simples pedaço daquela cidade gigantesca
e monstruosa que foi cidade do império capital do mundo
noutro mundo que não este
eu e a helena
de novo no mesmo táxi a passar ruas que que não saberemos
mais o nome e gentes que correm mais velozes do que o rio e do que
o tempo
sem nos olharmos de frente, sorrindo, talvez, para o passado
longe, tão longe de nós.
todo o carinho sabia a nostalgia
todos os beijos nos afastavam irremediavelmente.