16.1.08

O João no hospital

Eu brincava com os dedos grandes dos pés dele, por debaixo dos lençóis todos brancos, enquanto ele dizia disparates, só disparates.

- Por ti deixava de roer as unhas e pintava-as de amarelo. Por ti sacrificava a minha pomba favorita. Tornava concretas todas as minhas ânsias. Por ti fazia tudo, menos que de mim fizesses outro.

Entretanto a fama da sua beleza percorria os corredores assépticos. Insistia em que eu lhe cortasse o cabelo, a ele que já nem sequer andar sabia. Por vezes duas facas espetavam-se-lhe nas costas e fazia uma careta que logo desfazia.

Eu continuava a brincar com os dedos grandes dos pés dele. Ele era como o mel e ninguém sabia porquê. Eu sim. Eu era a abelha subindo no ar que iria com ele até ao fim de tudo.

P.P.
Histórias verdadeiras,94

10 comments:

Nilson Barcelli said...

Lena,
Não sei quem é o Pedro Paixão, mas os textos são óptimos.
Beijinhos

Helena said...

um querido amigo
:)

I said...

um grande escritor

Anonymous said...

Passo por ca algumas vezes... adoro cada letra pk me tras tb mto de mim.

Helena said...

meu querido amigo, a caldeirada que fizeste na casa da praia com o peixe que foste buscar enquanto eu ainda dormia...:*

RC said...

Oh quem dera ter um Pedro Paixão (assim) dedicado a mim.

Joana Amoêdo said...

Eu adoro este blog.

CatarinaSantos said...

Sou grande admiradora das Obras de Pedro Paixão.
(Re)Encontro-me em muitas das suas palavras.

Joanne said...

Que lindo texto...sentido...tocou-me de uma maneira que não sei explicar*

Anonymous said...

só sou o gémeo pobre da alma que escreve de mim. talvez queira ser o que não sou e o vice-versa também já nasceu em mim. força para o blog.. :)